quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Avatar FiliPêra

Besouro

 

Besouro pode ser um filmão ou simplesmente mediano, tudo depende do que você espera dele. Obviamente ele foi vendido como um filme de ação, com coreografias de luta elegantes e requintadas, muito diferente do “normal” em filmes nacionais, onde a técnica fica para segundo plano.  E Besouro tem tudo o que promete… embora em doses menores do que provavelmente você está esperando e acompanhou pelo material divulgado.

E por esse motivo ele se assemelha bastante a O Tigre e o Dragão, guardadas as devidas proporções. Está mais para um filme pacifista, reflexivo e com elementos amorosos do que propriamente uma hora e meia de pancadaria que quebra as leis da física sem dó. E é aqui que está a possível faca de dois gumes: a história é simples do início ao fim, com personagens simplórios, mas que funcionam para o propósito do filme sem problema nenhum, mas fica a impressão que poderiam explorar melhor o conceito de capoeirista no estilo Wuxia, que foi a idéia vendida desde o início, como você viu no nosso preview

Besouro é o típico herói relutante que com o decorrer da história vai “crescendo” e ficando mais consciente da sua missão. Principalmente após passar por certas provações. Ele é um escravo, e vive numa fazenda de cana-de-açúcar no recôncavo baiano, que tem um coronel dos piores, e um capataz ainda mais sinistro. Após a morte do seu mestre de capoeira, Alípio, ele foge para a mata e tem contato com os orixás, que o treinam para que ele inicie uma luta em favor dos escravos e contra a cultura escravagista - que persistia em pleno século XX.

 

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Antes mesmo de estrear Besouro já é destaque por um motivo: é pioneiro no sentido de fugir do lugar-comum do cinema nacional, recheado de filmes sobre bandidagem (da qual saíram pelo menos duas obras-primas, Cidade de Deus e Tropa de Elite), filmes sobre o Nordeste (que geraram o filmaço Cinema, Aspirinas e Urubus), comédias com atores da Globo (nada de muito bom por aqui) e outras coisas que você está careca de ver (ou de ouvir falar). Besouro é um filme de ação clássico, com narrativa fortemente calcada na mais-que-conhecida jornada do Herói.

Mas ele vai ainda mais além e possui uma técnica primorosa, aliado a um trabalho de fotografia que é um show à parte. Somente as cenas xamânicas, em que Besouro incorpora animais e vemos tudo numa visão em primeira pessoa, submergindo na água, pulando como um sapo, ou voando como um inseto, já valem o filme. Mas o filme tem mais, muito mais. Os longos minutos de silêncio absoluto, quando o herói entra em contato com orixás, aliado a uma narrativa e uma edição eficaz, são algumas das melhores sequências que vi no cinema nacional nos últimos tempos. A predominância do amarelo também é destaque, assim como a caracterização primorosa dos orixás.

Só senti falta de mais cenas de luta, afinal estamos falando de um herói capoeirista “que avoa”. A luta de Besouro pela libertação de seu povo é um pouco mais subjetiva do que aparenta, e suas ações são mais para incentivar aos escravos que lutem (mesmo que muitos deles nem o apóiem) do que propriamente cair na mão com tudo quanto é jagunço. É claro que a forma como as ações subversivas dele inspiram os escravos a lutar é bem interessante, mas a narrativa acabou não focar nem a subversão nem a pancadaria, o que resulta num vazio no roteiro.

Faltou também A luta final. Não sou tão fã de narrativas simplórias, com início-meio-clímax, mas se um filme tem início e meio normais, espero um clímax digno, e não tive um. A sensação de decepção foi mais ou menos parecida com a que senti ao terminar de ver Matrix Revolutions, embora o derradeiro capítulo da saga de Neo tenha sido brochante, o que não foi o caso aqui!

A própria história tem lá seus defeitos. O triângulo amoroso entre os amigos de infância Besouro, Quero-Quero e Dinorah não é lá dos mais bens construídos, e mais serve para colocar elementos amorosos no filme do que propriamente para enriquece-lo. A sucessão de momentos Besouro destrói algo, e os fazendeiros o perseguem também cansa em alguns momentos, mesmo que seja tudo muito bem executado, e com uma boa narrativa que não tem qualquer problema em chutar as regras da linearidade, misturando lembranças e pensamentos em tudo.

 

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Mas se Besouro em parte falha como uma experiência cinematográfica - principalmente no quesito história - ele acerta em cheio como uma experiência visual, assim como um belo retrato da cultura negra e da capoeira. Nesses elementos a ênfase no visual acima da história se mostra uma aposta correta, que gera resultados como a belíssima cena de luta na árvore, desde já uma das coisas mais grandiosas que já vi no cinema nacional. Mas quem for esperando um samurai à brasileira vai se decepcionar. Mas que a iniciativa seja vista com bons olhos por produtores e diretores no nosso tão repetitivo cinema.

 

Besouro (Brasil, 2009)

Diretor: João Daniel Tikhomiroff

Duração: 95 min

Nota: 7,5

6 Comentaram...

murilo disse...

Eu me decepcionei. Devia ter lutas do início ao fim, mas sem descuidar da história. Bom, vale por ser o filme nacional mais original que já vi.

Hugo Maximo disse...

Ouvi algumas críticas negativas, mas o trailer me chamou a atenção. Mesmo assim vou conferir.

Anônimo disse...

Como capoeirista, fiquei MUITO decepcionado.
Tiveram uma grande oportunidade de fazer um filme que ficasse à altura de nossa luta dançada nacional, e o que fizeram? Trouxeram um chinês pra estragar toda sutileza e elegância da capoeira! Como exemplo dou outro filme que também fala de um capoeirsta: Madame Satã. Apesar de bem menos cenas de luta, ele retrata visualmente muito bem o que é capoeira, vide a cena em que ele dá uma rasteira no cara e termina o movimento segurando o chapéu. Agora colocaram o ator pra chutar três caras ao mesmo tempo, no estilo Jackie Chan, e o fim do movimento é uma base travada, típica do Kung fu. Cadê a ginga? Eu achei uma farsa pra gringo ver, o que infelizmente prejudica a capoeria como um todo, pois os gringos vão querer aprender aquelas prezepadas achando que é capoeira e sempre vai ter um "sabichão" disposto a "ensiná-los" por alguns US$. E a capoeira cada vez mais sendo descaracterizada... Fora a parte musical, que ficou ridícula, as poucas cenas em que tem um berimbau, é extremamente mal-tocado. E a musica tema é rock´n roll! Fala sério... os caras estavam no recõncavo baiano, um dos lugares mais ricos musicalmente que eu conheço e botam o tema de besouro com guitarra? Resumindo, achei um péssimo filme, nota zero, infelizmente...

Anônimo disse...

Galera temos que lembrar que o Besouro realmente
existiu, não existe porque colocar lutas de mais aonde não é...e o ponto é esse ele quase não luta, mas instiga o povo negro a lutar pela própria liberdade, esse é o diferencial de um herói brasileiro, e um super herói americano q bate em todo mundo mas não mata ninguém e ninguém consegue matar ele ou vai atraz dele depois.

Minha opinião
Att. Sonegheti

Anônimo disse...

besouro entra pra historia do cinema nacional, simplesmente por contar a história da luta dos escravos pela liberdade.......

Anônimo disse...

O filme deve ser elogiado por muitas qualidades. O visual é deslumbrante e a técnica da primeira pessoa muito bem utilizada. E o mais importante: sai da mesmice que assola nosso cimena.

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