quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Avatar José Renato

Mass Effect 2

 

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(Essa resenha discute spoilers do primeiro Mass Effect. Leia por sua conta e risco.)

Em minha resenha de Mass Effect 1, comparei o trabalho da Bioware ao trabalho da Pixar Animation Studios, e essa é talvez uma das melhores comparações que consigo pensar. É uma empresa que só tem coisa boa no currículo, incluindo alguns clássicos que são inigualáveis. Pixar tem a trilogia Toy Story, The Incredibles e Wall-E na minha lista de "melhores animações EVER". Bioware tem Baldur's Gate, Neverwinter Nights, Knights of the Old Republic e Dragon Age: Origins na minha lista de "melhores jogos EVER". E as duas empresas tem um pequeno, porém assistível/jogável deslize. No caso da Pixar, é Cars; no caso da Bioware, é Mass Effect.

E a coisa mais bizarra é que nos dois casos, as respectivas empresas querem expandir a franquia dos mais fracos. Cars terá uma sequência em 2011, Mass Effect foi concebido desde o princípio como uma trilogia. O que me resta é esperar que as sequências melhorem seus originais. Ainda não sei como ficará Cars 2, mas Mass Effect 2 já tem um ano de existência (é, blá blá blá, jogo velho, blá blá, tô nem aí) e certamente é melhor do que o original, mas ainda tem o que melhorar.

HISTÓRIA

O primeiro Mass Effect era um jogo que era bem focado em introduzir ao jogador esse novo universo. Cada diálogo poderia abrir uma nova página no "Codex" do game, com inúmeras informações sobre as raças, planetas, tecnologias, e até mesmo conflitos passados e guerras que aconteceram há muito, muito tempo em galáxias muito, muito distantes. A história do primeiro, em si, era bem nhé. Super-soldado fica doidão e se torna traidor, se alia a uma raça de poderosas máquinas, super-herói do universo (leia-se personagem jogável) mata o traidor e salva a galáxia. Mas o background de muitas das raças era muito mais interessante, como as muitas guerras nas quais os turianos e os krogan se envolveram, o vírus criado para impedir que os krogan se tornassem potências da galáxia, e o conflito entre os quarianos e a raça de robôs inteligentes criada por eles, os geth.

 

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A segunda parte em uma trilogia é a parte que deve pegar esse universo introduzido no primeiro e fazer uma história mais forte em cima, e é exatamente o que Mass Effect 2 faz, e faz com alguns artifícios que foram brilhantes. Basicamente, nenhuma partida de Mass Effect terá um final igual a outra. Muitos jogadores podem ter deixado o Wrex morrer, ou matado a Ashley ao invés do Kaidan, ou deixado o Conselho morrer, ou uma série de outras decisões menores que poderiam ser esquecidas. Não pela Bioware. Ao começar o game, você pode importar seu jogo salvo do primeiro, recuperando assim todas as suas decisões, seu nível, a aparência do seu personagem e até mesmo seu dinheiro. E pouca coisa é tão interessante como ver as escolhas de seus personagens mudarem o rumo da sequência desde o primeiro diálogo como neste game.

Caramba, já fiz dois parágrafos e ainda nem comecei a falar sobre a história propriamente dita! Bom, no final do 1, o Comandante Shepard salvou a galáxia ao matar Saren e destruir o Reaper que iria ceifar todas as formas de vida. No começo do 2, Shepard ainda está sob o comando da Aliança, e sua imagem e força estão sendo "desperdiçados" buscando por geth nas fronteiras dos sistemas solares mais fora-da-lei. Numa dessas buscas, a Normandy é atacada e destruída e Shepard acaba sendo jogado (ou jogada) pro espaço e caindo num planeta, sendo carbonizado pela entrada atmosférica, isso tudo numa cena de cair o queixo.

 

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Mas claro que não haveria jogo se não houvesse um porém. A organização terrorista Cerberus (que os jogadores do primeiro game devem reconhecer como inimigos chatos) recuperam o corpo de Shepard e passam dois anos o reconstituindo, dando ao jogador oportunidade de mudar de classe e aparência. O líder deles, um homem estilo "Canceroso" (de The X-Files) chamado de Illusive Man, diz para Shepard que colônias humanas inteiras estão desaparecendo, sendo levadas por uma raça de alienígenas meio insetóides chamada de Collectors. E então Shepard irá recrutar uma equipe de especialistas e embarcar em mais uma épica aventura que é chamada de "missão suicida" desde o começo, com uma atmosfera quase sempre pessimista, que é refletida até mesmo nas cores do jogo, que focam no vermelho e azul escuros, e que fazem lembrar mais do que um pouco de Star Wars: The Empire Strikes Back.

A história já é superior por si só, mesmo sendo clichê, mas também ajuda que os personagens de ME2 são mais carismáticos do que os do jogo anterior. Sejamos francos: Ashley Williams e Kaidan Alenko eram como Sandra Bullock e Keanu Reeves em The Lake House, duas portas sem emoção nenhuma. Garrus era o chato que queria discutir meus métodos, e Liara era praticamente a Rita da série Dexter com sua voz irritante, principalmente se Shepard estivesse em um romance com ela. Os mais legais, Wrex e Tali, ainda assim eram sérios demais e não tinham o fino balanço de drama e comédia que faz os personagens de Dragon Age: Origins serem tão interessantes.

 

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Mass Effect 2 se sai muito melhor que o original nesse sentido. Ainda são sérios demais, mas pelo menos agora são maiores em número (12 contra os 6 do original), e todos eles tem um background contado por uma missão específica de cada um. Mesmo aqueles personagens que eu fazia "blé" no começo acabavam se tornando mais interessantes depois de terem suas missões específicas completadas. Posso usar a Miranda como exemplo. Detestei ela no começo, mas sua missão mostrou suas razões para toda a frieza e lealdade para com Cerberus, e então gostei mais dela. Outros personagens são interessantes desde o começo, como Thane e Samara. E Mass Effect 2 tem o professor Mordin Solus. Esse sim consegue disputar com os personagens de Dragon Age em carisma e comédia mesmo tendo um background sério e tumultuoso. Não vou nem dizer porquê para não estragar.

Ser a segunda parte de uma trilogia tem suas vantagens, e Mass Effect 2 aproveita bem essas vantagens, usando o mundo construído no primeiro game como base para uma história mais forte e personagens mais carismáticos. Ainda assim, está bem atrás de Dragon Age: Origins. E vou contar um segredo: a Jack é uma das piores personagens da Bioware.

GRÁFICOS

O primeiro jogo lançado na Unreal Engine 3, Gears of War, foi lançado em 2006. Mass Effect 2 foi lançado em 2010. Programadores levaram 4 anos para fazer um jogo que tivesse gráficos realmente ótimos nessa engine. E houve muita celebração!

 

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Mass Effect 2 é uma potência visual, talvez o jogo mais bonito em termos técnicos e artísticos de 2010. Metro 2033 vence em pura técnica, mas Mass Effect 2 não come meu computador vivo no processo visual. Cada um dos locais visitados é mais bonito que o anterior, com texturas bem detalhadas, todos os efeitos que um bom game da geração atual deve ter, como profundidade de campo, HDR, sombra dinâmica e tudo o mais. Os efeitos de iluminação em especial são perfeitos, e os lens flare característicos de Mass Effect estão ainda mais impressionantes do que no original.

Talvez a coisa mais legal dos gráficos de ME2 é sua paleta de cores. O jogo é muito colorido, e ainda assim as cores são opressivas e dão a impressão de que não há esperança para a missão de Shepard e que todos vão morrer no processo. Basta visitar a balada de Omega e ver como todas as muitas cores do lugar ainda conseguem ficar escuras e sombrias. Explosões também são bem feitas e os efeitos de poderes bióticos e técnicas de congelamento e incineração são bem convincentes.

O único ponto fraco dos gráficos de ME2 são as limitações inerentes à Unreal Engine 3. Não é possível ligar Antialiasing, e os personagens ainda tendem a clipar pelas paredes e chão dependendo de seu posicionamento, especialmente aqueles que tem cabelo. Alguns rostos humanos também são bem menos detalhados que rostos mais exóticos. Mas é pouco preço a pagar pelos visuais surpreendentemente ótimos de um jogo nessa engine.

 

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SOM

É difícil um jogo recente que não tenha ótimos efeitos sonoros. Sério, talvez seja a parte mais difícil de ter uma opinião. Mass Effect 2 não é diferente. As armas têm sons apropriadamente poderosos e satisfatórios. Não há nada como explodir a cabeça de um turiano com a Widow Sniper Rifle. Mas que jogo recente não tem ótimos efeitos sonoros?

No entanto, ME2 facilita meu trabalho para ter uma opinião sobre a atuação de voz, já que não são todos os jogos que tem essa quantidade de falas gravadas. E a qualidade raramente cai. Todos os personagens fazem muito bem os seus papéis, incluindo os papéis mais chatos, como a de Jack. Devo dar parabéns especiais a Michael Beattie, que deu sua voz super-engraçada a Mordin Solus, e a Martin Sheen, que faz a voz do Illusive Man. Talvez os únicos elos fracos sejam o próprio Shepard, Jacob e Miranda, que são os personagens que mais merecem o "Keanu Reeves Award".

JOGABILIDADE

Vamos lá! Criação de personagem. Essa se manteve praticamente igual, você ainda pode escolher dentre as seis classes disponíveis, uma variedade de passados caso não tenha importado o personagem do primeiro game, e a aparência. A grande diferença agora é que as classes são muito mais distintas e a jogabilidade muda completamente se você troca de classe, enquanto que no primeiro game, escolher o Infiltrator ou o Soldier dava quase na mesma. Aqui, cada classe é restrita a alguns tipos de armas e alguns tipos de poderes, e toda a dinâmica é alterada conforme a classe. Um Infiltrator irá se manter à distância, usando seus poderes de camuflagem para conseguir matar inimigos com fuzis de precisão, enquanto um Vanguard vai pular pra dentro com uma 12 que nem macho.

 

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E já que já estamos falando do tiroteio, vamos para a parte principal, e que talvez possa ser decepcionante. Foi bem legal eu poder mencionar Gears of War anteriormente nessa resenha, pois Mass Effect 2 não é mais um RPG, e sim um TPS muito parecido com Gears. De fato, grande parte das mecânicas de jogo que faziam parte de RPGs foram diminuídas a um mínimo ou removidas completamente. No lugar, ficou um sistema de cobertura igualzinho ao de Gears, tiroteio bem semelhante ao de Gears, agora você recarrega as armas de maneira mais convencional ao invés de olhar para uma barra de aquecimento, e luta contra hordas de inimigos que também se escondem atrás de muretas e trocam tiros. É um Gears of War um pouco mais inteligente. Infelizmente, a ação também se torna mais repetitiva, porquê Gears of War só tem 8 horas no máximo, enquanto ME2 dura 35.

Lembra daquele inventário confuso e irritante do primeiro ME? Aquele que não dava pra organizar? Pois é, removido completamente. Em seu lugar, você tem uma seleção bem limitada de armas que pode escolher antes de cada missão, e pode dar upgrade nelas entre uma missão e outra. Lembra do Mako? Aquele carro estranho que conseguia subir montanhas em ângulos de 90°, mas era terrível de controlar? Removido completamente. Em seu lugar, não ficou nada. Com DLCs, o Hammerhead foi introduzido como veículo em algumas missões extras, e apesar dele ser mais fácil de controlar que o Mako, ainda é muito chato. Lembra das habilidades que tinham 12 ranks cada uma e você ainda podia escolher múltiplas habilidades bônus? Ainda estão lá, mas agora tem 4 ranks cada e apenas 4 habilidades por personagem, tirando o Shepard que tem 7. Bem mais simplificado que no original.

 

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E falando em missões extras, lembra das vinte mil missões IGUAIS do original? Pois bem. ME2 substitui essas com algumas missões mais legais, como uma na qual você tem que recuperar informações de uma nave que está pendurada numa montanha e prestes a cair. Também no lugar das side-missions do primeiro estão as missões de lealdade. Cada um dos personagens de ME2 tem uma missão de lealdade, que é uma missão centrada no background do personagem em questão, e quase todas elas figuram entre as missões mais legais do jogo.

E lembra dos trocentos planetas que você podia explorar no original? Bom, ainda é possível explorar a galáxia inteira, mas agora você usa um scanner orbital. Esse detecta se um planeta possui alguma anomalia (missão extra), e você também deve usar o scanner para verificar os planetas ricos em recursos. Você precisa analisar esses planetas segurando o botão direito do mouse e olhando num gráfico que mostra picos de recursos onde você passa. Quando você vir um pico bem grande, lance uma sonda e recolha os recursos, que então você pode usar em upgrades de armas, armaduras e da própria nave. E esse sistema é uma das coisas mais chatas que fiz em 2010.

 

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O sistema de diálogo está praticamente intacto na sequência. Você ainda irá escolher uma vaga resposta num pequeno círculo de respostas, e Shepard irá responder mais ou menos no tom que você escolheu. Ainda gosto do sistema, mas percebi uma pequena falha nele. Mass Effect não é muito amigável a quem quer incorporar um papel, e te penaliza se você não for 100% bonzinho ou 100% malvado, removendo respostas que poderiam ajudar você. Novo no sistema de diálogo é um pequeno sistema de "interrupção". De vez em quando, durante um diálogo, um botão do mouse irá aparecer, como numa Quick-Time Event, e você poderá escolher apertá-lo ou não para interromper o que está acontecendo e fazer algo. Exemplo: um krogan está dando um discurso sobre como sua raça vai dominar a galáxia, enquanto Shepard nota um cano de gás explosivo embaixo da plataforma onde o krogan está. Botão esquerdo do mouse pisca, você clica, krogan explode pelos ares antes de terminar o diálogo. É bem interessante, mas a maioria desses é escolha Renegade (malvada) e também sofre dos problemas que qualquer Quick-Time Event têm, ou seja, pode ser irritante.

O que dá a impressão em ME2 é que a Bioware exagerou na reação às críticas. Não era necessário remover totalmente o inventário. Talvez colocar um botão de "Organizar", ou separar por tipos de itens, como em Dragon Age. Não era preciso remover o Mako, talvez apenas mudar o sistema de missões extras, o que foi feito. Não era preciso simplificar as habilidades dos personagens. Tudo isso parece ser uma resposta agressiva da Bioware, tipo "Olhem, vocês são muito estúpidos para gostar do nosso jogo, então tomem uma versão emburrecida dele!". Mas talvez isso soe muito crítico. ME2 ainda funciona muito bem em seus diálogos, seus sistemas de combate aumentaram a velocidade e fluidez da jogabilidade, e apesar de repetitivo, você pode sempre trocar seus personagens para tentar estratégias diferentes. Só não é perfeito.

 

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FATOR REPLAY

Mass Effect 2 pode ter fator replay infinito. Cada uma das seis classes são totalmente diferentes uma da outra, o jogo oferece cinco dificuldades, e você pode importar personagem do 1, jogar com novo background, tentar ser bonzinho ou malvado, mudar os jeitos como completa as missões, enfim. O game tem potencial pra ser jogado muitas e muitas vezes.

 

PRÓS E CONTRAS

+ História superior a do primeiro

+ Personagens mais carismáticos

+ Atmosfera pessimista, estilo Empire Strikes Back

+ Os melhores gráficos que a Unreal Engine 3 é capaz de fornecer

+ Atuação de voz ótima e com nomes de peso

+ Sistema de combate mais fluido e dinâmico

- Simplificação de muitos sistemas, como inventário e habilidades

+/- Virou TPS de vez, varia conforme o quão nerd você é

+ Maior variedade em missões opcionais

- Escanear planetas? Sério?

+ Sistema de diálogo bom

- Quick-Time Events

+ Fator replay alto

CONCLUSÃO

Mass Effect ainda parece ser uma série que está com dificuldades em achar seu rumo certo. ME2 é um ótimo game, mas ainda tem coisas que precisam ser revistas. De qualquer forma, serve perfeitamente como uma excelente segunda parte de trilogia, e espero que o já anunciado ME3 não siga totalmente o caminho de George Lucas e não possua Ewoks.

 

Nota: 8

1 comentário

Max disse...

Bom, eu sou mais fã de Mass Effect do que Dragon Age, mas concordo em muitos pontos negativos apresentados em relação ao primeiro, principalmente. A falta de carisma dos personagens no Mass Effect 1 é enorme, coisa que no 2 foi maravilhosamente corrigido. E espero que o 3 só traga mais melhorias, principalmente na história que ficou muito mais interessante.

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