segunda-feira, 15 de março de 2010

Avatar FiliPêra

Fanboys

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É uma versão road movie fodástica de O Balconista! É o supremo representante do cinema nerd… Puta que pariu, é um dos filmes da minha vida…”

Essas são algumas coisas que penso quando termino de assistir Fanboys. Infelizmente essa pérola do cinema nerd não chegou às salas de cinema nacionais, e sou obrigado a vê-la em condições que não gostaria: no meu notebook, com fones… e rindo igual a um maluco. Ao meu redor, quatro pessoas - leia-se Humberto, Bruner e os pais deles - realizando suas atividades normalmente. Mesmo assim é uma das experiências mais pessoais, emocionantes, fantásticas e engraçadas pela qual já passei. Mas imagino que Fanboys seja mais divertido visto no cinema, numa sessão lotada, recheada de nerds ansiosos pra ver o filme. Vê-lo num notebook é como participar da Comic-Con pelo Second Life. Muito da experiência social que um filme desses pode te proporcionar é perdida… os gritos no cinema, alguém identificando Jay e Silent Bob no meio da projeção, algum fã de Star Wars mandando um Treks sucks (Treks, não Trekkers), ou ainda os barulhos de queixos caindo no momento em que Kristen Bell aparece com o clássico biquíni da Princesa Leia.

Mas, mesmo vendo sozinho, senti que Fanboys foi uma mostra de como seria se Eu tivesse nascido na vizinhança certa. O filme é simplérrimo, se olharmos unicamente sua trama principal, é como um Conta Comigo sem os elementos stephenkingianos, mas com as piadas inspiradas de Kevin Smith. É como se o Quick Stop, onde Randal e Dante trabalham, fosse um trailer viajando por aí, rumo a uma JediCon da vida. Para muitos será um retrocesso digno de ver A Vingança dos Nerds novamente… mas para a camada nerd da população, será um orgasmo recheado de muitas risadas em forma de filme, uma janela da própria vida cultural de cada um deles.

A jornada pela qual Fanboys passou para finalmente ver a luz dos - limitados - circuitos comerciais foi digna do aprendizado de um padawan. Foi como um diamante bruto se tornando uma das jóias mais apreciáveis do mundo. O filme ficou na geladeira da Weinstein por muito tempo, e na verdade só chegou a ser produzido graças a Kevin Spacey e a produtora dele, a Trigger Street. Foram dois anos “idéias” esdrúxulas de executivos que queriam tirar o principal elemento do filme, ou pediam alterações nas piadas. Mas a versão final saiu íntegra, como imaginada por seus autores, e isso não poderia ser melhor…

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Na trama temos um grupo de nerds como qualquer outro. Uma loja de quadrinhos pra empregar todo o mundo, festas pra anima-los e todas essas coisas típicas. Mas há um elemento destoante no grupo, Eric, que largou os amigos e foi seguir a carreira de vendedor de carros na empresa da família. Três anos depois, no meio de uma festa, ele aparece, e no dia seguinte fica sabendo que seu melhor amigo - Linus - está em estado terminal de câncer.

Tentando sinceramente se redimir, Eric desenterra um plano antigo dos quatro amigos: invadir o Rancho Skywalker! Mas dessa vez eles têm um objetivo claro, que é permitir que Linus veja Episódio I - A Ameaça Fantasma antes de morrer (e é justamente a parte do câncer que os executivos queriam tirar, transformando o filme num clássico de Sessão da Tarde: As Confusões Muito Loucas dos Nerds). Daí para frente se sucede a maior metralhadora de piadas inteligentes e nerds que você já viu, logicamente com Star Wars, o tradicional marco zero do nascimento da Cultura Nerd, como foco principal.

Uma coisa que qualquer diretor do mundo daria seu ator principal e diretor de fotografia para conseguir sempre, é conectar seu filme ao seu público. Por mais grana que tenha sido investida no filme, por mais atores gabaritados que se contrate, geralmente uma conexão nunca é estabelecida. O filme morre meia hora depois que termina. Não gera discussões, não viram referências em piadas e trocadilhos, e esse é o objetivo de muito filme lançada por aí.

Fanboys não só se conecta ao público a que ele se destina, como se torna parte da vida deles. E nem precisa de apelar para nada! Ver os quatro amigos numa jornada inconsequente, que seria taxada de loucura por qualquer ser humano civil (não-nerd), é de emocionar. E é aí que está o cerne do filme, que consegue ficar acima do próprio desfile de piadas: amizade. Se em Conta Comigo, Os Goonies e qualquer desses filmes que moldaram caráteres de toda uma geração, a jornada dos amigos em busca de um tesouro/corpo ficou em segundo plano, aqui rola a mesma coisa. Chegar ao Rancho Skywalker para ver Episódio I - que todos já sabemos ser sofrível - é só um detalhe frente ao que os amigos passam para chegar lá - incluindo usar peiote dado por um índio doido, interpretado por Danny Trejo. E um deles estar com câncer só reforça isso…

É como se o Capitão Willard navegasse até o Camboja, numa daquelas jornadas que nos transforma em humanos de verdade - em Fanboys, tal jornada é chamada de Destruir a Estrela da Morte, se fosse o mala do Paulo Coelho, seria Descobrir a Lenda Pessoal - e desse de cara com Coronel Kurtz babão, usando samba-canção, e comandando um exército de Maria-Moles - além de prender a língua por aí, como um certo orelhudo de Episódio I. O resultado seria decepcionante, mas a jornada seria libertadora o suficiente para descartar esse fim!

No meio do desenvolvimento de personagens, outras questões surgem. A principal delas diz respeito ao próprio Eric. Ele abandonou os amigos e “cresceu”, arranjando um emprego normal, desperdiçando o talento dele com desenho e se tornando alguém. Mas ele se sente deslocado, como um peixe tirado do mar e jogado num aquário apertado que fica numa sala. Ele agora precisa demonstrar pro pai que tem maturidade para ser um bom vendedor de carros. É aí que entra a velha questão da felicidade x dinheiro. Um exemplo que mostra bem como a sociedade em geral encara essa dualidade, surgiu quando Adriano, do Flamengo, voltou da Itália dizendo que estava infeliz jogando lá. Os críticos logo disseram: Quer ficar perto do morro dando uns tiros em carreiras de cocaína. É o tipo de pré-julgamento que se aproxima da frase: Larga de ser idiota e pára de ler gibis, faça alguma coisa de homem… A gente sabe que tá fazendo coisa melhor que as pessoas que falam isso, elas trabalham oito horas (ou mais) em empregos que odeiam, e mal têm tempo pra ser alguém na vida, enquanto a gente busca conhecimento, lê gibis e livros, vê todos os filmes possíveis!

Trazendo a questão da forma como ela é apresentada no filme, Eric era visto pela sua família como um idiota, mas nós, nerds, temos uma visão justamente oposta - sem precisar de esforço, já que o irmão dele é um mané com pedigree. Hoje a Cultura Nerd é vista com outros olhos, mas seus pais - os caras da geração passada - vêem trabalhar com gibis, cinema, música, ou qualquer coisa que o valha, como ser vagabundo. Do outro lado da moeda, está a indústria que quer tirar o máximo de grana dos fanboys (tipo com esse monte de relançamentos de Sandman que Eu compro), e no fim das contas cabe a você saber o que quer, se informar. E é isso que é ser nerd. Ao final, Eric entendeu a verdade suprema: você é nerd, e não está nerd num momento. Não é o tipo de coisa que se muda, como a roupa do corpo. Não, você é assim meu caro, e pronto.

As piadas, referências, e o desfile de atores históricos na tela é fenomenal. Não vou aqui ficar estragando surpresas, mas se você conseguir identificar todos os atores e rir de todas as piadas, com certeza vai se sentir como um ganhador da loteria. E é aqui em Fanboys que fica explícito para toda uma geração de novatos que conhecem nerds de reportagens do Fantástico, como Nerd é um estilo de vida. Não é o tipo de coisa explicável para o cara que diz: Meu, isso é coisa de virgem, vai pegar no peito de uma mulher vai, ao invés de ficar discutindo sobre Hollywood… E ter isso sintetizado em 90 minutos é uma das melhores coisas dos últimos tempos.

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Mas infelizmente esses 90 minutos acabam mais rápido do que a primeira transa de um moleque de 15 anos. Ao final chegam as risadas… Junto com as risadas vem a emoção. Emoção que virá acompanhada de lágrimas. Lágrimas acompanhadas de reflexão. É por filmes como esse que não acredito em imparcialidade numa resenha, ou qualquer outro texto jornalístico. Como resenhar imparcialmente um filme feito para mim? Certamente que ver num dos caras-maus do filme - Seth Rogen, perfeito em seus três papéis - uma tatuagem gigante do Jar Jar Binks junto com Anakin criança, te leva a pensar em como Fanboys não quis saber se outro tipo de público vai entender essa piada… é um filme meu e seu, e isso me leva a colocar em terceiro plano defeitos que possam existir. Ver na tela diálogos que você já teve com amigos - Luke queria ou não queria traçar a Leia - é um dos motivos para acabar de vez com a imparcialidade, principalmente escrevendo num veículo chamado Nerds Somos Nozes.

Por isso, danem-se bilheterias, danem-se toneladas de efeitos especiais, dane-se o 3D… isso são acessórios geralmente mal usados para tentar criar conexões do filme com você, geralmente falhando miseravelmente (Senhor dos Anéis, você é uma exceção…). Fanboys faz tudo isso com um pé nas costas, simplesmente não fazendo uma concessão sequer ao cinemão, sendo um filme de fã. Se você não gosta, ele definitivamente não é para você; se gostou, tenho certeza que o achou um pedaço da sua vida. Não dá pra exigir mais de um filme…

 

Fanboys (EUA, 2008)

Diretor: Kyle Newman

Duração: 90 min

Nota: 10

20 Comentaram...

Ghost disse...

Se pudesse colocar um link para baixar no Anarquia ficaria imensamente agradecido!!
:)

Miguel Mascarenhas disse...

Não sou um profundo conhecedor da saga Star Wars, mas gostei muito do filme.

E muito boa a resenha.

Unknown disse...

Lembro que quando assisti esse filme gostei bastante, mas perdi muitas das piadas por não entender as referências nerds mais old school.

Acho que faltou um link para o trailer (aqui um link), que aliás é muito bom.

Neko disse...

Agora eu fiquei na vontade de ver!

ego-death disse...

ótima resenha.. preciso ver esse filme!!

Anônimo disse...

Falou tudo,man!Estou aa espera desse filme e volta e meia vejo o trailer!!Eh item obrigatorio na estante de qualquer nerd que se respeite !.Nao conhecia o seu site mas agora jah tah na minha lista de favoritos!!Abs visite www.flavioluizcartum.fotoblog.uol.com.br

Alexandre disse...

Fiquei emocionado e sorri demais com sua resenha.
Só um nerd para entender outro nerd.

Gus Batts disse...

Filmaço tenho ele aqui no meu PC e acabei de compra-lo em Blu-ray pq esse merece!!! Assim como na resenha esse filme foi feito para o meu target, não me canso de assisti-lo e pensar comigo mesmo, será que durante todo minha vida haviam cameras escondidas captando minhas falas, é imprssionante assistir na tela algo que faz parte da sua vida! Sem mais uma ótima resenha de um EXELENTE filme!! E ah, Com certeza o Jar Jar vai bombar em episódio 1!!!RSRSRS...

Luiza Ribeiro disse...

Vi Fanboys na mesma situação q vc Filipera, e só lamento que um projeto tão legal não tenha espaço nas salas daqui do Brasil.

Pra nerds, especialmente fãs de Star Wars e Trekkers é melhor ainda. E o carro é fantástico, a buzina é o Chewbacca!

Tavares disse...

A parte de apertar peito é minha

Nilto, o Junio disse...

filmão! bom pra caralho

Aleatório disse...

noss, se eu tivesse um coração eu estaria chorando agora...

onde que tem o link para baixar?

HaaS disse...

Do C.A.R.A.L.H.O.... parabéns pelo post...

Anônimo disse...

Por uma (belo) acaso tive a oportunidade de assistir este filme.
Duas palavras: hilário e emocionante!

Murius disse...

Imperdoável.... acho imperdoável a demora por uma resenha a altura desde filme. tá bom, ficou boa então esta passa.

Draco Hood disse...

Nossa quando baxei ese filme ano passado assisti 3 vezes seguidas sem conseguir parar de rir minha mae em determinado momento passou perto da tv e ficou prestando atenção no filme derrepente virou e falou (a mesma coisa que ela falou quando viu um ep de bbt diga-se de passagem) "nossa é igualzinho voce e seus amigos"
esse filme realmente eh uma perola da nossa geração

Antonio Rodrigues disse...

o filme é simplesmente perfeito, cara eu não tenho vergonha de dizer q chorei no final... poxa...

sem falar que eles "contam" nossa vida de nerd...

Lucas Pessota disse...

Me emocionei tanto com esse filme como você cara, parabéns pela resenha!

Gabriel Silva disse...

É tão bom o sentimento de satisfação que o filme te passa ao vê-lo, e mesmo que eu nunca tenha discutido se Luke queria ou não traçar a Leia (até porque não tenho muitos amigos nerds), essa foi sem dúvida a minha melhor experiência cinematográfica desde sempre!

Anônimo disse...

o post pod ser velho... mas queria saber a musica q toca em 1h18 do filme

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