segunda-feira, 8 de março de 2010

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Alma Mater #6 – Sagrado Feminino – Parte 01

 

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Em em meu último post aqui no Alma Mater prometi que o próximo texto seria sobre o Sagrado Feminino. Quatro meses se passaram desde então e a vida corrida me impediu de cumprir a promessa, mas como diz o FiliPêra: “É melhor levar o tempo que for preciso e fazer bem feito.” (Nota do Editor: Essa é a política do NSN para com prazos, que praticamente não existem por aqui).

Senti que era hora, quando surgiu a oportunidade de iniciar o blog She-NSN justamente nesse 8 de março, onde o mundo, por um breve momento, no tempo lembra que nós mulheres não mais aceitamos ser empurradas para os calabouços da História.

Não levarei esse texto para o caminho do discurso ortodoxo feminista, não porque o considere errado ou desnecessário, mas sim porque o próprio Alma Mater é o meu manifesto muito pessoal em favor da luta diária desses Grandes Mulheres, as do passado e as do presente.

O que peço a vocês leitores é que observem o mundo a sua volta despidos do preconceito, releiam as biografias de Hipátia de Alexandria, Safo de Lesbos, Boudicca e Aspásia de Mileto, observem que apenas um 8 de março ainda é pouco para que a mulher recupere o status que lhe é de direito, não mais e nem menos do que o do homem, mas o de igualdade e respeito.

O SAGRADO FEMININO ATRAVÉS DA HISTÓRIA

Meu muito querido amigo Vinicius Cabral, professor de História apaixonado, assim como eu pelos períodos Antigo e Medieval, iniciou comigo uma gostosa brincadeira pelo Formspring. A idéia era testar nossos conhecimentos, ao mesmo tempo em que emitíamos nossas opiniões. A brincadeira tornou-se tão séria que o levou a escrever em seu blog, o História Zine, um maravilhoso texto sobre Sagrado Feminino que vocês encontram AQUI e de onde na cara de pau surrupiei o título acima! Esse pequeno tesouro que o Vinicius nos deu é o pontapé para tudo que vocês encontrarão aqui no Alma Mater.

NO PRINCIPIO ERA MÃE, O VERBO VEIO DEPOIS

A frase que do título acima é da escritora americana Marilyn French em seu livro Beyond Power e resume brilhantemente a base do Sagrado Feminino. As três maiores religiões monoteístas - Cristianismo, Judaísmo e Islamismo – independente de seus dogmas individuais, possuem em comum a crença em um mesmo Deus-Pai. Mas o que poucos sabem é que muito antes já existia a Grande Deusa-Mãe cultuada desde tempos remotos, que remetem a Pré-História.

 

Venus

Achados arqueológicos em sítios como o de Çatalhüyük, na antiga Anatólia, região que corresponde hoje a parte da Turquia, levantaram fortes suspeitas de que as primeiras sociedades teriam como religião um culto centrado no feminino através da figura de uma Deusa-Mãe que era representada pela Natureza. As famosas estatuetas das Vênus - figuras femininas de proporções robustas que em geral possuíam seios fartos, ancas largas, abdômen protuberante, vulva saliente e coxas grossas - figuram como prováveis representações dessa religiosidade baseada na fertilidade. A mais famosa dentre elas é a Vênus de Willendorf, que foi desenterrada a 8 de Agosto de 1908 em um sítio arqueológico situado próximo a cidade de Willendorf, na Áustria.

Essas primeiras sociedades eram caçadoras-coletoras e viviam somente daquilo que abundava na terra – frutos e raízes - além da facilidade na caça de animais de pequeno porte. As tarefas eram partilhadas entre os sexos e não havia desigualdade. A figura da mulher possuía mais destaque, não por ser melhor do que o homem, mas pelo simples fato de ter o dom de gerar dentro de si a vida. A participação masculina na procriação era desconhecida, o que acabou originando a crença de que as mulheres eram seres divinos. A escritora Barbara G. Walker em seu livro O I Ching da Deusa, descreve:

 

“O útero cheio de sangue era capaz de criar, magicamente, sua prole, coagulando ou solidificando de alguma maneira a sua própria substância semilíquida num novo corpo vivo.”

É fácil imaginar que os nossos antepassados primitivos, ao observarem tanto as mulheres quanto as fêmeas do reino animal gerando a vida, por associação chegariam a conclusão de que a Terra de onde nascem as águas que matam a sede, o alimento que os nutre e as cavernas que servem de abrigo, seja também uma mãe, a Grande-Mãe, divina e generosa.

 

EurynomeJanto

A GRANDE DEUSA-MÃE E OS MITOS DE CRIAÇÃO

O antropólogo Joseph Campbell dividiu os Mitos de Criação em quatro partes, onde nas palavras da escritora Rose Marie Muraro:

 

“Surpreendentemente, esses grupos correspondem perfeitamente as etapas cronológicas da história humana.”

E ela complementa:

 

“Na primeira etapa, o mundo é criado por uma deusa mãe sem auxílio de ninguém. Na segunda, ele é criado por um deus andrógino ou um casal criador. Na terceira, um deus macho ou toma o poder da deusa ou cria o mundo sobre o corpo da deusa primordial. Finalmente, na quarta etapa, um deus macho cria o mundo sozinho.

Essas quatro etapas que se sucedem também cronologicamente são testemunhas eternas da transição da etapa matricêntrica da humanidade para sua fase patriarcal.”

Da Ásia a África, das Américas a Oceania, a Velha Europa, Oriente e Ocidente, os Mitos de Criação foram recorrentes em todo o globo terrestre. E no próximo post irei contar como a Grande Deusa-Mãe teve seu apogeu e posteriormente queda e as consequências por trás desse simbolismo para todas as mulheres do passado até os dias de hoje.

4 Comentaram...

Rápido disse...

Texto interessante, Dolphin. Realmente, a figura divina e milagrosa do feminino se perdeu e isso é ruim. É moralmente mais fácil deturpar, destruir e subjugar algo/alguém quando se se põe num patamar superior (por exemplo os europeus escravagistas que não sentiam remorso em dominar e vender africanos pois eles não possuíam alma, segundo a Igreja Católica). A nossa cultura judaico-cristã ocidental apagou completamente essa noção de devoção e respeito para com o feminino, mas aidna acho que viverei para ver as mulheres tomando as rédeas da Terra. Não que eu apóie a Dilma como presidente...

Coincidência ou não, eu como jornalista sempre trabalhei em redações cheias de mulheres nos cargos de chefia e nunca tive problemas ou percebi que alguma delas não estavam a altura dos postos que ocupavam. Posso dizer que aprendi mais e mais rápido trabalhando com mulheres do que com colegas e chefes homens. É até engraçado ver claramente aspectos inerentes aos gênero que a mulher traz para sua vida profissional que o homem não consegue.

Enfim, feliz todos os dias, porque eu acredito que todo dia é dia da mulher, como é dos pais, das mães, das crianças, do índio, etc, como comentei no tópico da Anna Diniz.

Akira Mistika disse...

PARABÉNS pelas reportagens sobre o universo feminino e suas pecualiridades, assim como a participação das mulheres no blog. ÓTIMAS !!!!!!
Um forte abraço.

Cristine Martin disse...

Olá Dolphinzinha!

Valeu a pena esperar, a primeira parte está ótima, imagino o que vem por aí...

Ao ler seu texto e a citação das quatro fases do mito da criação, lembrei do livro as Brumas de Avalon. No começo da história a Deusa predominava e as sacerdotisas de Avalon comandavam a Bretanha, sendo os homens meros coadjuvantes. Os filhos de Beltane eram filhos de suas mães e o pai não era importante (um pouco exagerado, sei). Com a ascensão de Artur e o crescente poder da Igreja Católica, o poder da Deusa foi se enfraquecendo e Avalon foi se ocultando cada vez mais nas Brumas. No final, Morgana chega à conclusão que era hora da Deusa ficar em segundo plano, e que havia chegado o momento do Deus, ou da Igreja Católica, governar o mundo. É bem o que acontece nas quatro etapas.

Aliás, você já leu esse livro? Gostaria de saber sua opinião.

Beijos!

PS: Campbell é ótimo! :-)

Joelma Alves disse...

Dolphin,até q enfim vc voltou!!Só achei o texto meio curtinho... ^^

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