terça-feira, 13 de outubro de 2009

Avatar FiliPêra

Bastardos Inglórios

 

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A primeira pergunta que vem à mente assim que é lançado um filme de Tarantino é óbvia: esse é um filme com a marca Quentin Tarantino? Respondendo rapidamente a pergunta com relação ao aguardado épico de II Guerra do queixudo e aclamado diretor de Cães de Aluguel, a resposta é um sonoro SIM. Bastardos Inglórios tem tudo que tornou Tarantino um dos nomes mais importantes do cinema dos anos 90, o que já é suficiente para classifica-lo como um dos filmes do ano, além de obrigatório para qualquer um que diz gostar de cinema.

Não tem jeito, se você odeia Tarantino e o acha raso, plagiador, metido ou seja lá qual o adjetivo você prefira, sua opinião não vai mudar nem um pouco com esse filme. O mesmo vale caso seu caso seja o inverso.  Seja nos longos e afiados diálogos que conduzem todo o filme, na violência caricata e (nervosamente) risível, nos personagens absurdamente bem construídos… tudo remete a um filme de Tarantino, o que é sempre ótimo, mesmo nos exemplos menos nobres, como À Prova de Morte (Jackie Brown, pra mim, não conta).

Bastardos Inglórios é como um Kill Bill na II Guerra. Desde o diálogo inicial, tenso ao máximo e que é bastante similar a chegada de Bill a uma certa igreja em El Paso (até sua conclusão é bastante parecida e nervosa); até a violência explosiva, que vai embrulhar estômagos; passando pelas esperadas homenagens a filmes de faroeste e outros gêneros amados do diretor.

As referências que desfilam ao longo do filme são várias, e podem ser encontradas sem dificuldade. Começando pelo faroeste, que vai desde o nome do personagem principal, Aldo Raine (uma mistura de Aldo Ray, ator de Os Boinas Verdes, com John Wayne), até a  magnífica trilha de Morricone, presente nos melhores momentos dos clássicos western-spaghetti de Sergio Leone. Fora isso temos um pouco de Kubrick (inclusive na interpretação exagerada e hilária na ponta de Mike Myers), e várias referências a filmografia do próprio Tarantino.

Assim como a saga de Beatrix Kiddo, Bastardos tem seu fio condutor na vingança. Já na citada primeira cena somos apresentados a primeira trama vingativa: numa França ocupada, o Coronel da SS, Hans Landa (Christoph Waltz, o melhor do filme com sobras), orgulhoso de ser apelidado de Caçador de Judeus - é basicamente o que ele faz: caça judeus em territórios dominados por nazistas - massacra a família da pequena Shosanna Dreyfus. Na outra trama temos o melhor: os tais Bastardos Inglórios, que são soldados judeus (ou não tão judeus, como no caso de Sgt. Hugo Stiglitz, um nazista renegado) pertencentes a um violentíssimo batalhão americano de caça e escalpelamento de nazistas.

O capítulo II - sim, mais um filme de Tarantino com divisão em capítulos -, homônimo do filme, já vale o ingresso, ao mostrar o modus operandi deles. As “belas” cenas de escalpos de nazistas sendo arrancados, os interrogatórios, a chegada de Donny Donowitz, o Urso Judeu (Eli Roth, que melhor atua que dirige), a execução de um oficial com um taco de beisebol… tudo hiper-acentuado por câmeras lentas, travellings e a inebriante trilha de Ennio Morricone, remetem ao melhor de Tarantino, além de representarem um passo a frente na técnica e estética das suas filmagens.

 

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As duas linhas narrativas são interessantes, embora alguns personagens poderiam ter sido melhor aproveitados. De um lado Shosanna consegue uma nova identidade e vira dona de um cinema, e na outra temos os Bastardos querendo dar fim a guerra, e vêem essa possibilidade após uma agente dupla informar que os mais importantes líderes nazistas estarão em uma sessão de cinema. O destino de todos, como era de se esperar, se unem num violento, acelerado e apoteótico final, que muitos diretores babões não teriam coragem de fazer devido a coisas como 11/9, e que ainda por cima toma liberdades históricas sem problema algum.

As atuações, como sempre, são uma atração a parte. Mesmo sem a gangue habitual de Tarantino (cadê Eli Roth, Michael Madsen e Uma Thurman?) e a substituição deles por gente de renome, como Brad Pitt, os personagens são excelentes e tarantinescos. Pitt é caricato e divertido, como deu para perceber nos vídeos promocionais do filme, e está longe de ser destaque, fora que sua zoação com as expressões de Marlon Brando em O Poderoso Chefão vai causar revolta em alguns. Por outro lado temos Hans Landa, o melhor vilão dos cinemas desde… bom, desde que Heath Ledger reinventou os vilões com o seu Coringa. Ele é educado, gentil, mas brutal e cínico ao mesmo tempo. Já Eli Roth e Til Schweiger (Stiglitz) são os insanos que todos gostam, gerando a costumeira tensão, berros e sorrisos quando estão em cena.

Entre as mulheres a coisa se divide. Aqui as mulheres não são mais o centro, como em KIll Bill, mas continuam fortes, como bem atestam as duas principais. Shosanna é bem construída e tem bons momentos (principalmente no apoteótico final, e nas cenas de cortes sucessivos no soldado herói de guerra e pentelho Fredrick Zoller). Já Bridget von Hammersmark, a agente dupla, é caricata, e mesmo sendo o fio condutor de uma cena especialmente tensa, não passa disso.

A técnica de Tarantino está cada vez melhor. De Cães de Aluguel a Jackie Brown pode-se dizer que visualmente não houve grandes coisas nos filmes dele, com exceção de uma ou outra cena. À partir de Kill Bill a coisa mudou. Querendo fazer um filme de ação, Tarantino reservou todo o frenético primeiro capítulo para fazer um caldeirão de referências ao cinema oriental de baixo orçamento de Hong Kong… culminando tudo numa luta de fazer inveja a Neo & cia. Isso com certeza aprimorou esteticamente o estilo dele de filmar. Grande parte dessa experiência é herdada para Bastardos. Quentin ousa nos enquadramentos, nos movimentos de câmera, e até inclui uns efeitos especiais a là filmes de terror, como na cena em que Shosanna aparece na fumaça. A trilha sonora, como sempre, é escolhida a dedo e parecem nascidas para a cena em questão.

Apesar de alguns momentos ficarem com aquele ar old, visto que existem inúmeras homenagens ao cinema barato dos anos 30/40, todo o conjunto se destaca por não precisar de coisas idiotas de filmes de guerra propagandistas (bandeiras americanas, por exemplo), e ainda se sobressai pela coragem de fazer um filme falado em três idiomas.

Mesmo com a temática de guerra sugerindo um filme de ação no estilo dos momentos mais sangrentos do longa anterior do diretor, a verdade aqui e outra. À exemplo de Pulp Fiction e a incompreendida obra-prima Kill Bill Vol. 2, sãos os diálogos que conduzem todo o filme. Um dos melhores deles, a cena no bar cheio de nazistas, é tenso e cômico; e apesar de durar um pouco mais do que deveria, culmina com um um tiroteio que muito agradará aos fãs de Cães de Aluguel… com o plus de ainda ter uma veia trash a là a Evil Dead.

 

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Conclusivamente, Bastardos Inglórios é um filmaço como poucos. Joga fora convenções e maneirismos do cinema moderno sem dó ou piedade - como nas anotações sobre os nazistas importantes no cinema, ou as pausas para contar as histórias de Stiglitz e dos rolos inflamáveis, todas narradas por Samuel L. Jackson. Ao final fica a dúvida clássica: esse é o melhor filme de Tarantino? Talvez, mas pode-se dizer que até o diretor ficou com isso na cabeça ao utilizar de metalinguagem, colocando um dos Bastardos, Smithson Utivich, olhando diretamente para os cinéfilos, ao lado de Aldo Raine, para comentar: Esta provavelmente é sua maior obra prima! Cabe a cada um guardar a resposta pra si.

 

Inglourious Basterds (EUA, Alemanha 2009)

Diretor: Quentin Tarantino

Duração: 153 min

Nota: 9,5

11 Comentaram...

Murilo Andrade disse...

Se receber assistirei quinta-feira.

Ivan disse...

Gostei muito do filme. Inclusive minha 'senhoura' também virou fã!

Achei o final Tarantinamente legal, já que difere dos 'fatos reais'.

Quem quiser saber o final do filme.. acompanhe aqui: http://comotermina.info/2009/10/11/como-termina-bastardos-inglorios/

Claudio (aglioeolio) disse...

a dona do Cinema (Shosanna), o Detetive (Hans Landa) e as Musicas do Ennio Morricone são as "engrenagens" da história, e funcionam muito bem. Os bastardos são meio que "Folclore" pra pano de fundo, como você citou.

O detetive/coronel, que "sobra" como melhor atuação nos momentos importantes do filme, me lembra os politicos em geral, não sei porque - maldita lábia pra mentir e fod3r com os outros kkk.

Enfim, filmaço - boa resenha, parabens.

Rafael Mendonça disse...

"Gostei muito do filme. Inclusive minha 'senhoura' também virou fã!" [2]

Curti, vale a pena ter na estante, junto outros do Tarantino.

Inté...

Tiago Cabral disse...

Achei o filme animal, mas o que me chama mais a atenção nos filmes do Tarantino são os diálogos, eles impressionam, te fazem rir, te fazem ficar tenso e tudo isso numa mesma cena. O exemplo disso é o começo do filme, que absurdo aquilo, aliás, comi meu dedo inteiro (a unha já tinha ido embora) durante esse filme de tão tenso que ele te deixa. Achei animal, não por se fã do Tarantino, mas pelo conjunto da obra, os diálogos cheios de referência, as linguas faladas, o contexto de guerra totalmente diferente de outros filmes sobre o mesmo tema e lógico pela trilha sonora, que dá show mais uma vez!!! parabéns pelo blog, adorei!

Velho da Montanha disse...

esse caçador de judeus parece interessante

Genilson Zunino disse...

vi o filme e me lembrou dos tempos de pulp fiction... como o colega acima falou, o dialogo inicial é tenso do começo ao fim tragico, tarantino na melhor forma, e um final que não esta nem ai para a historia, foi show.
E Hans Landa perdendo apenas para o Coringa no cinismo e crueldade.

Alan Cosme disse...

Achei o filme sensacional!! Um dos melhores que vi no cinema.
Morri de rir na cena em que os bastardos inglórios se desfarçam de italianos, minha cena favorita.

Valdir Souza disse...

rola link de download?

Unknown disse...

Magnífico! Filme inteligente, que conseguiu reinventar a forma de se contar filme da II Guerra!
Ao final dessa obra de arte, talvez "prima" (espero que não, afinal a vontade que fica ao terminar um filme de Tarantino é que o próximo supere!), conhecemos o verdadeiro poder do cinema!

Anônimo disse...

FILMES DO TARANTINO?! ASSISTO COM TODO PRAZER.
ELE ME FAZ GOSTAR DAS MÚSICAS DA TRILHA SONORA.
EMBALEI O MEU FILHO ( TEM 15 ANOS HOJE ) ASSISTINDO OS FILMES DO SURPREENDENTE TARANTINO.

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