domingo, 21 de setembro de 2008

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Tio Sam se retrai + Urso se levanta= Guerra Gelada

 

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Por A Voz do Além

 

Após a queda da poderosa União Soviética, vítima de falência, por não aguentar continuar com uma corrida armamentista que durou quase meio século; surgiu apenas uma superpotência: a terra do Tio Sam. Com o posto de “xerife do mundo”, os EUA logo mostraram a que vieram. Bombardearam o Iraque - do mesmo Saddam Hussein a quem tinham ajudado anos atrás, durante a Guerra Irá-Iraque-Iraque - fizeram intervenções (mal-sucedidas) em países africanos e ameaçaram começar uma guerra na América do Sul, com o famigerado Plano Colômbia. Mesmo com insucessos, é inegável a supremacia americana sobre todo o planeta.

Os russos, por outro lado, sofreram a pior transição para o capialismo de toda a Cortina de Ferro. O primeiro presidente eleito por voto popular de sua história, Boris Yeltsin, bebia mais que governava, era portador de mais de 15 doenças e problemas crônicos, e chegava a cair de bêbado durante discursos e reuniões oficiais. O poder de fato era exercido por máfias, formadas por  ex-funcionários do governo que ficaram milionários à base de corrupção. Os EUA já encaravam a Rússia como um velho inimigo derrotado, nada lembrando o opulência de outrora. E parecia fácil que tudo permanecesse assim por uns bons 40 anos…

Mas ninguém contava com uma mudança radical nos poderes. Nos EUA surge George W. Bush, considerado o pior presidente americano em décadas (não me pergunte como ele se reelegeu). E do lado russo, sai o fanfarrão Yéltsin, e sobe Vladmir Putin. Os dois não poderiam ser mais opostos. Enquanto um (Bush) ladra igual cachorro, o outro é calado e frio, herança de seus tempos como espião da KGB na Alemanha Oriental.

E as situações dos dois gigantes começam a se inverter dramaticamente nesse fim de década. Os EUA estão atolados em duas guerras inúteis – e com fortes chances de começar outra no Irã - e começam a viver sua pior crise econômica, desde o crack da bolsa de 1930. Para tentar conter essa crise o governo injetará na iniciativa privada, aproximadamente 1 TRILHÃO de dólares. Enquanto isso os russos se beneficiam da alta do petróleo e estão com os bolsos com alguma reserva.

E com o Tio Sam cheio de problemas internos, os russos começam a se aventurar, ao estilo Guerra Fria. Passearam na Geórgia, e a esmagaram, com apenas três brigadas do exército; além de trazerem para o Mar do Caribe, piscina dos EUA, uma fragata nuclear para se exercitar com Hugo Chávez; numa clara resposta aos navios americanos no Mar Negro, que apoiaram moralmente a Geórgia. Os EUA e a Europa se retraem, não querem problemas com o gigante, justo em dias de crise econômica.

A OTAN, que investigou as causas do conflito Rússia-Geórgia, chegou a decisão de que foi tudo culpa da Geórgia. Foram eles que provocaram, foram eles que dispararam o primeiro tiro, foram eles que desceram para o play errado. E isso tudo, após os EUA terem pagado de besta e tentado intimidar a Rússia a frearem sua vontade de guerrear (se Sarkozy não tivesse ido até lá e costurado um acordo com Putin, os russos teriam dominado toda a Geórgia).

 

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Acima, tropas russas chegando à Ossétia do Sul. Abaixo, rebeldes Ossetianos

 

O pior: essa vitória incentivou o dueto russo Putin-Medveded a oferecer ajuda a diversas regiões conflituosas, que querem a independência. Já conseguiram a simpatia dos ossetianos e dos habitantes da Abikhazia, outra república georgiana rebelde (entre aspas, já que o acordo de dissolução da URSS, previa que cada república decidiria seu destino. Isso torna as duas repúblicas livre do controle georgiano). Essas duas regiões, que Moscou reconhece como estados independentes, irão receber, em breve, 3.800 soldados russos, cada (ou seja, adeus Geórgia, que vai ficar dividida ao meio). Entenda isso como uma provocação; e oferecimento de ajuda para a Criméia (na Ucrânia) e Transnistria (território da Moldávia). Os dois países, Ucrânia e Moldávia, desejam entrar na OTAN, o que foi logo descartado por Putin & cia. Se somarmos isso ao fato de que Kosovo, região rebelde que ficou independente, jamais ter sido reconhecida pela Rússia (e em consequência pela ONU) e pela maioria da Europa, estar em maus bocados, chegaremos à conclusão que tentar ser independente sem a ajuda russa na Europa é mal negócio (a recíproca é verdadeira).

Imagine se a Geórgia já fosse membro da OTAN. Ou os países membros da organização se recusariam a entrar em guerra por causa de um micro-país, e contra uma das maiores potências do mundo, o que provavelmente causaria o fim da organização; ou estaríamos presenciando a maior guerra do mundo desde o fim da II Guerra Mundial, que provavelmente aniquilaria grande parte da humanidade.

É por motivos como esse que a OTAN praticamente descartou a entrada da Geórgia, Ucrânia e Moldávia na organização. Com Putin, apoiado pelo agora novamente Exército Vermelho, as coisas podem piorar e muito. Nas palavras de Robert Kaplan, jornalista da revista Atlantic Monthly (uma das mais importantes publicações de política do mundo) e um especialista no assunto:

Vladimir Putin mapeou tudo. Percebeu que os EUA, alquebrados pelo Iraque e Afeganistão, ainda desejosos do apoio russo para sanções contra o Irã, não tinham mais aliados na Europa e seguiam ambivalentes à crise no Cáucaso. Putin percebeu que o líder da Geórgia, Mikhail Saakashvili, apesar de seu pendor nacionalista, era o presidente fraco de uma democracia com Forças Armadas frágeis. Olhou o mapa da Geórgia e viu um país engolfado pela Rússia e o Ocidente lá longe. Ali é diferente dos Bálcãs, que têm a boa sorte de fazerem fronteira com a Europa Central e, portanto, terem a sorte de contar com envolvimento da OTAN. No Cáucaso, os vizinhos são Rússia, Irã, o naco mais pobre da Turquia e o Mar Cáspio.

Putin olhou e se moveu. Liberou a Ossétia do Sul, um estado sob o domínio de gângsters e contrabandistas, do frágil poder militar da Geórgia. Fez o mesmo em Abecásia, outro estado da Geórgia. Segundo as últimas notícias, as forças russas já controlam uma base militar no leste do país e parecem dispostos a manter o controle militar em toda região na qual o poder central é fraco. Ao cortar a Geórgia ao meio, os russos controlam o oleoduto Baku-Tbilisi-Ceyhan, crítico para a energia do ocidente, fazendo com que o Kremlin passe a decidir o fluxo de combustível para o Mediterrâneo e Europa. Norte-americanos e europeus vão querer sentar à mesa, e a Rússia fará concessões. Mas farão isso de uma posição de força. A Geórgia provavelmente nunca mais terá um governo independente como aquele que teve até 8 de agosto de 2008.

É, parece que os EUA, e o mundo, desaprenderam  rebater um presidente que fala alto, com um arsenal nuclar às costas. Coloque toda a culpa em Boris Yeltsin.

 

Fonte: Pedro Dória, The Economist e The Atlantic

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